sábado, 23 de outubro de 2010

VIDA LONGO PARA O REI!

Pelé 70 anos: Rei vale R$ 600 milhões


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Carol Knoploch
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Pelé em ação promocional da Libertadores - AP
SANTOS. Quer Pelé como garoto-propaganda? Ele não sai de casa por menos de R$ 2 milhões. Se a campanha for no exterior, dobre o valor. Este é o piso: a cifra varia de acordo com o tempo de contrato, participações em eventos... A marca Pelé vale R$ 600 milhões, segundo José Carlos Kanner, presidente da Prime, que há um ano comprou a marca Pelé por 20 anos (tem prioridade para mais 20). Ele afirma que é agora, após 30 anos da despedida dos gramados, que Pelé começa de fato a vender produtos. Um recomeço para o Rei que comemora neste sábado 70 anos.
- A imagem dele sempre foi bem trabalhada, mas não a marca. Por incrível que pareça, não se explorou a venda de produtos de forma significante. Agora, o Pelé se prepara para eternizar a marca - explica Kanner, que começou a vender a linha esportiva Pelé na Alemanha e Inglaterra. Ainda em 2010 atingirá os EUA (sem previsão para chegar ao Brasil). O destaque é uma chuteira, licenciada por uma empresa suíça. Pelé opinou das travas à palmilha. E o filho Edinho está testando no Santos.
- Mesmo com 70 anos, o mercado é elástico e inclui produtos e serviços ligados a energia, saúde e nutrição.
Segundo amigos, Pelé não gosta de festa em seus aniversários e por isso costuma refugiar-se. Só terá a companhia dos familiares, provavelmente no Guarujá (SP).
- Ele diz assim: "Hoje o Pelé faz aniversário e onde ele for eu vou também" - conta Manoel Maria, ex-ponta direita do Santos. Ele coordena o Litoral Futebol Clube, parceiro do Jabaquara, que sobrevive com a ajuda do Rei. - Minha carreira nos gramados foi curta e o meu gol mais bonito é a amizade com o Pelé. Ele tem uma família enorme, ajuda muita gente e a mim também. Merece o mundo mas como já tem... Desejo que Deus perdoe todos os seus pecados. Eu o amo!
Corpinho de 55Pelé, Zidane e Maradona. (Camilla Alves - Atitude Comunicação)
- A pilha dele não acaba! - conta André Figer, filho do empresário Juan, amigo de Pelé. A família é sócia do Rei na rede de academias Pelé Club, que vai inaugurar a quarta unidade no início de 2011, em Uberlândia (já existe em São Paulo, Belo Horizonte e Belém). - Tudo a ver com aquela propaganda de pilha que ele fez com Robinho. O Pelé mantém o peso de quando encerrou carreira. Faz academia em casa, se preocupa com a saúde, faz dieta e é fininho - conta André, ao lembrar da propaganda das pilhas Rayovac, "a amarelinha", da qual Pelé foi garoto-propaganda nos anos 70 e também em 2005 ao lado de Robinho.
Ele afirma que o Rei não gosta de ficar parado:
- Nas viagens ao exterior, há recepção de chefe de Estado. Quando tem brecha na agenda, arruma outros compromissos. Muitas vezes ficamos cansados antes dele - observa André - O assédio chega de presidentes a ascensoristas. E o tratamento é igual. Ele não dá só autógrafo. Faz dedicatória. Não tira uma foto. Repete a foto para uma mesma pessoa... Haja disposição.
E ninguém fica sem autógrafo. Pelé tem um secretário que o acompanha sempre e tem canetas para a hora H. É que Pelé gosta de usar as porosas para escrever nas camisas.
- Brinquei num vôo para ele fingir que estava dormindo. Mas não topa. Houve tumulto e teve de avisar que daria autógrafos para todos após a decolagem - lembra Anibal Massaíni Neto, produtor do filme Pelé Eterno e amigo do Rei - Estávamos na Itália e consegui convencê-lo a sair pelos fundos do hotel para jantarmos. Uma multidão fazia plantão na porta. Pelé aceitou mas disse que eu pagaria a conta se não conseguíssemos comer sossegados. Adivinha? Dezenas de autógrafos naquela noite. Pelé não sabe o que é uma vida comum - avalia Aníbal, que entrega o Rei: separado desde 2008, "tem sempre paquerinha" e atualmente não "está sozinho".
300 pedidosPelé em evento em Nova Iorque - Arquivo
Neli Cruz, uma das três assessoras de Pelé, a responsável pela agenda no Brasil e no exterior, somou mais de 300 pedidos de jornalistas do mundo inteiro para entrevistá-lo por conta do aniversário. Gentilmente, recusou todos. Ela, há dez anos com o patrão ilustre, diz que Pelé tem compromissos agendados até julho de 2011, quando acenderá a pira dos Jogos Mundiais Militares, no Rio.
- Ele trabalha muito, mas tira férias todos os anos. São muitos parceiros - declara Neli, que assegura que o Rei recebe convites diariamente. Há algum tempo não aceita mais ações pontuais, aparições (com raras exceções). Seus contratos são de médio a longo prazo. E não escapa de pedidos curiosos:
- Uma senhora que fará 70 anos junto com o Pelé pediu uma ligação dele para ser parabenizada! - revela Neli, que tentaria convencê-lo. Para ela, Pelé tem 70 mas "corpinho de 55"- Ah! Também recebo ligações de mulheres que se dizem apaixonadas e que querem sair com ele. Pode?
Obama e mineiros
Além da Prime e da Pelé Club (ambas em São Paulo), o Rei despacha em Santos e em Nova York. Em 2010, aumentou as viagens para os Estados Unidos porque seus filhos mais novos (Joshua e Celeste) estão em Orlando.
Recentemente, Pelé recebeu pedido do consulado do Chile para enviar camisa autografada para os mineiros que estavam soterrados no Deserto do Atacama. Ele topou.
- Pelé mandou carta para Barack Obama parabenizando-o pela eleição em 2008. E ele respondeu! Tenho guardada, claro - contou Neli. - Há dois anos, o príncipe Charles o convidou para gravar um clipe sobre sustentabilidade. São coisa deste nível.
O hobby é cozinhar e escrever músicas. Já gravou com Elis Regina, Jair Rodrigues e Gilberto Gil. Trocou o futebol pelo tênis - e odeia perder.
- Em alguma coisa tinha de não ser perfeito, né? Ainda assim, acho que canta bem samba - afirma o médico Nilson Santos, amigo de Pelé.
- Quando cozinha, deixa de ser rei para servir. Prefere salgado ao doce e adora escargot - completa Aníbal, que, como poucos, conhece a carreira do rei nas telas. Fez novela na TV Excelsior (Os Estranhos), contracenou com Sylvester Stallone e Michael Caine (Fuga para Vitória), viveu um escravo (A Marcha), foi protagonista (Pedro Mico). - Não faria novela hoje porque não teria tempo e tem a dificuldade de superar a própria imagem. Não seria um padre, por exemplo. Mas sim o Pelé de batina.
Sem seguranças
Nilson, que conheceu Pelé durante a primeira excursão do Santos ao exterior, descreve momentos especiais:
- É gente querendo beijar seu pé, se ajoelhando... Uma vez, na França, os funcionários da imigração deixaram seus postos para tirar foto com o Pelé. Segurança particular? Ele não tem... Quem faria mal a Pelé? - pergunta o médico, que fundou com o Rei, em Curitiba, o Instituto Pelé Pequeno Príncipe (desenvolve pesquisas de doenças complexas de crianças em idade escolar).
- Para mim, é rei pelas atitudes como homem. Tem diversos projetos filantrópicos e não fica contando. Sua preocupação com as crianças não é discurso do milésimo gol - elogia o médico. - Já tive contato com várias estrelas de Hollywood e garanto que Pelé conseguiu manter os pés no chão e as rédeas da sua vida.